FADO CANSADO

Já contei a minha história

Sempre o fiz devagar 

Por cada palavra dita

Caiu uma lágrima no mar


Não me lembro de nascer

Mas de uma coisa eu sei

O primeiro som que saiu

Foi em choro que o gritei


Abençoado por Deus

E batizado sem saber

Tenho fotos para provar

Que chorei só por querer


Foi na escola que aprendi

O que não iria ser

Foi sentado na carteira

Que eu recusei crescer


Passei a vida a trabalhar

A matar o meu desejo

Tanta pressa para ter

A boca aberta num bocejo


Agora que cheguei ao fim

É hora de descansar

Com o tempo que me deram

Nem consigo mais sonhar


Trago a alma no bolso 

Embrulhada num papel

Tenho medo de a perder

Está fugida, é infiel


Tenho na pele uns sinais

Com as marcas da vida

Em cada marca que tenho

Vejo um beco sem saída


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